quarta-feira, 16 de julho de 2014

dia 1

Eu precisei confiar na cura, na cola das partes, pois me dividi para dialogar comigo mesmo.  Me olhei não apenas como quem olha outro, mas como um outro me olhando de volta.  Fiz isso até me sentir tão acolhido, tão completo! como diante de uma presença benigna, uma inteligência tão amável que é absurdamente gentil, suave.  Mas não é uma força feminina simplesmente. Há uma clareza de vontade, de determinação, de capacidade para seguir adiante.  Não é masculina também.  É algo absolutamente os dois, mas ao mesmo tempo sem sê-los.  Faz sentido por que está qui, agora.  Não quero criar sentidos, a não ser esse: o de uma presença.
Ontem você fez aniversário, ou desaniversário, melhor dizendo.  Que coincidência engraçada ser no mesmo dia!  Eu havia batizado minha casa nova, mas ainda assim, por um momento inicial, em que a atmosfera do momento pesou, cada célula em meu corpo chorou.  Tremi como quem treme literalmente diante de um terremoto, uma tsunami varrendo minha pele, meus ossos.  Então algo em mim lembrou de respirar. Simples assim.  A cola havia funcionado.  Passei a noite sofrendo pelo vento frio que adentrava as rachaduras provocadas pelo abalo. Imediatamente  esse mesmo algo em mim graciosamente iniciou um trabalho de recompor as brechas. Às vezes o vento trazia vozes, outras era gelo mesmo. Acordei bem apesar de muito triste por também saber que outras fissuras, apesar de evitáveis, ainda virão.  Então, diante do que me virá, do que precisarei enfrentar, escrevi uma mensagem: "a dor e a tristeza são péssimos conselheiros, mas ótimos professores".

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