segunda-feira, 21 de maio de 2012

Povo-formiga

Os mundos são mais do que catalogamos ordinariamente.   Fazemos tudo igual a tudo, afinal estamos sempre ligando os pontos, nos certificando da continuidade do espaço-tempo.  Mas se você descer no metrô de uma estação qualquer você verá um povo-formiga, em tudo igual ao nosso, a não ser pelo fato de que são um povo-formiga.  Ao subir novamente à superfície você poderá até se perguntar se aquele é o país desse povo-formiga.  Precisará de provas, de um mapa, de fotos do satélite do google para se convencer, mesmo que interiormente sempre reste uma parcela de dúvida.  Talvez isso seja apenas um pouco da saudável paranóia que, bem analisada, leve a filmes de ficção e suspense.  Talvez seja apenas o senso de realidade ainda não perfeitamente ajustado de um menino de seis anos.  Eu, que vejo essa desesperada busca pelas conexões constantes, que vejo, ao mesmo tempo, como um resfriado, uma dor de garganta, uma febre, um telefonema, um mofo na parede, uma dose a menos de antibiótico, uma agulha, uma teimosia, estão interconectadas de modo pouco percebido, não me espanto mais com tantos acidentes.  As conexões não estão nas linhas traçadas a força apenas, elas estão onde menos se suspeita, no documento que não está no seu nome, na promessa que você nunca irá cumprir, no outro óvulo que compartilhou com você ao mesmo tempo o mesmo oceano, na chantagem da qual você foi vítima, e na imensa coragem que você teve ao procurar ser mestre de sua pedra escondida.  Até o que você nunca fará está ligado ao que você fez.  Esse é o mistério dessas conexões despercebidas.  Não é preciso marcar cada pegada do caminho, nem atirar migalhas de pão petrificado se você abrir os olhos.  Lembra quando você se perdeu numa feira livre e voltou para casa sozinho?  Não é necessário ter medo de reencontrar o caminho se você é capaz de achar a si mesmo. Veja essa mão estendida.  Olhe agora no espelho.  Você está em boa companhia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário