Você se lembra de quando disse que estava tudo bem? Pois você não disse. Mas te fizeram acreditar que havia dito.
Suas memórias foram, são, forjadas. E se você repete uma história um bom número de vezes, ou se a repetem em seus ouvidos, você acaba acreditando no que é contado. Cuidado com o que você lembra e mais cuidado ainda com os sentimentos evocados. Não acredite que algo aconteceu num passado. Toda partida nos acompanha como presença. Não acredite em lembranças evocadas do ontem. A evocação é, na verdade, recriação. O sentimento nunca vem de ontem, ele é reproduzido, produzido de novo. Por isso é tão estranho este ato de partir. Precismos partir a todo momento, mesmo acreditando estar apenas falando de algo que já se foi. Apesar desta crença, a de que falamos de algo que não acontece agora, recriamos esta partida sem o perceber.
Estamos partindo sem o perceber, indo embora sem nos darmos conta, andando em círculos, ou de círculos em círculos.
É por isso que escrevo estas mensagens, pois aos seis anos de idade eu desconfiei do que diziam que eu dizia, desconfiei que minhas memórias estavam em algum outro lugar e que eu me enganaria muito até achar uma pista. Eu coloquei estas pista na forma de um outro eu com as mãos nervosas diante de quebra-cabeças que só poderiam ser resolvidos com uma voz amorosa ao lado. Eu, que sou tão cético, mas sou o mais crédulo dos românticos, deixo esta outra mensagem dentro da mensagem: sempre acredite na voz que esquenta seu coração. É um calor que cria ar fresco.
Quando você descobrir que os quebra-cabeças são feitos de padrões e repetições, olhe esses padrões. Recuse repeti-los! Entenda um apenas, e você terá entendido todos. Supere um, e você terá superado todos. Só então diga que tudo está bem.
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